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Anamnese Financeira

Se você – como eu – pensava que “Finanças Pessoais” era um assunto relacionado às ciências exatas, estamos enganados. Falar sobre Finanças exige 90% de recursos humanos e apenas 10% de capacidade de fazer contas.

Finanças pessoais não é assunto do padrão “certo x errado”, assim como 2 + 2 = 4 ( e 4 é a única resposta certa). Mas 4 pode ser ótimo para mim, e ruim para você. Existe o que é melhor para mim, e o que é melhor para você.

Portanto, se você estiver pesquisando na internet e encontrar uma reportagem com o título “O melhor investimento de 2015”, fuja. Pense comigo neste exemplo e me diga se isto faz sentido:

José tem hoje 50 anos, tem 3 filhos (o mais velho com 20 anos e o mais novo com 11 anos), é engenheiro e trabalha como consultor autônomo, prestando serviços para empresas do ramo petroleiro.

Ana, sua sobrinha, tem 26 anos, trabalha no mercado financeiro, é solteira e tem um sonho de tornar-se sócia do Banco onde trabalha e morar em Nova Iorque.

Em um almoço de família, José mostra-se preocupado com a queda em sua receita, pois os projetos das empresas petroleiras parecem ter evaporado, junto com o preço do petróleo. Ele pergunta à Ana qual o melhor investimento a fazer. Se você fosse a Ana e tivesse as seguintes informações (reais!) em mãos, o que você responderia?

2015 Posição 2015 Últimos 5 anos Posição 5 anos Dólar 48,49% (1) 69,65% (5) Ouro 33,63% (2) 251,04% (1) CDI 13,23% (3) 185,96% (2) Inflação * 10,74% (4) 77,32% (4) Poupança** 9,79% (5) 120,77% (3) Ibovespa -13,31% (6) 29,57% (6)

a. Dólar. Rendeu 4 vezes o CDI, que é a taxa básica de juros, em 2015. Mesmo que nos últimos 5 anos ele tenha sido quase o pior investimento, investir em dólar garante que você possa se mudar para os Estados unidos sem correr o risco de perder se o dólar continuar subindo.

b. Ouro, sem dúvida. Ouro não perece e foi o que, de longe, mais valorizou-se nos últimos 5 anos. Mesmo se o governo der um golpe como fez Collor, o ouro fica guardado em seu cofre.

c. Poupança pois é o mais garantido e o sr., tio, está chegando próximo da aposentadoria. Não pode arriscar.

d. Títulos indexados à inflação, com certeza. O sr. tem um filho ainda pequeno para sustentar e se não se proteger da inflação, pode não conseguir pagar a faculdade dele.

e. Depende, tio. Precisamos estudar bem seu fluxo de caixa, para entender se está faltando ou sobrando dinheiro no final do mês. Precisamos também pensar até quando o sr. pretende trabalhar e qual o estilo de vida vai levar na aposentadoria, com qual renda deseja viver. Se o sr. tiver experiência com investimento ou não; se o sr. quiser deixar herança para seus filhos ou não, tudo isso interfere na sua escolha.

A questão é: o que levar em consideração na hora de avaliar um investimento ou tomar uma decisão financeira?

  • Idade

  • Momento de vida

  • Estabilidade profissional

  • Objetivos / Projetos de vida

  • Circunstâncias econômicas

  • Experiência prática com investimentos

  • Tolerância a risco

  • Aversão a incerteza

  • Comportamento racional x emotivo

A resposta certa é: sim, devemos levar todas estas variáveis em consideração, e mais outras tantas que aparecerem. E devido a isto, o melhor investimento para Ana pode ser o Dólar, e não parece ser o melhor para José. Ele não tem objetivo de morar em Nova Iorque como Ana; ele tem apenas 10 anos até aposentar-se, ela tem 35; ele tem filhos a criar, ela não; ele atua em um mercado que está em crise, ela não. Portanto, faz sentido que um único investimento possa ser taxado como “o” melhor investimento em um determinado ano? Faz sentido perguntar a sua sobrinha, seu vizinho, seu médico, sua mãe ou ao sr. Google qual é o melhor investimento para você? Me parece que não.

É de extrema importância conhecer-se profundamente antes de tomar decisões financeiras. Além de colocar os números na ponta do lápis (suas receitas, suas despesas, quanto custam seus projetos de vida), você também precisa conhecer seu perfil de tolerância a risco, seus hábitos, suas motivações, as perspectivas para sua vida.

O planejamento financeiro é um trabalho feito individualmente e aborda todas estas questões. A primeira etapa do planejamento oferecido pela GFAI tem o nome de “Clínica” financeira não por acaso. É uma conversa de cerca de 1h30 onde o planejador faz uma anamnese com o seu cliente, assim como faz um médico com seu paciente na primeira consulta. Procuramos identificar qual a forma de o cliente lidar com dinheiro, como isto se construiu na sua vida, desde a infância até a sua vida profissional. Fazemos também uma avaliação sobre sua situação financeira e patrimonial hoje e, para fechar, listamos e precificamos todos os seus projetos de vida.

Um médico não pode dar o mesmo remédio na mesma quantidade para todos os pacientes com sintomas de febre. Há pacientes com idade, peso, doenças pré-existentes, alergia, sistema imunológico completamente diferentes. Da mesma forma, seria um terrível equívoco um Planejador Financeiro recomendar os mesmos investimentos, a mesma decisão de alugar ou comprar um imóvel, de compra-lo a vista ou financiado, de economizar mensalmente em viagens ou TV a cabo ou em curso extra para seu filho.

Não somos todos iguais. O que é melhor para mim, não é melhor para o outro. O que foi melhor para mim há cinco anos, não é o melhor para mim hoje.

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